segunda-feira, 28 de junho de 2010

09/05/2002 - Forum de debates

- Fui convidada a participar de um Fórum de Debates sobre drogas no Colégio Santa Mônica, a palestra foi elaborada para falar com adolescentes. E assim foi:

"Olá, Boa noite a todos, como já fui apresentada, sou psicóloga, estudo sobre a questão das drogas há algum tempo. Faço parte do Núcleo de pesquisas de toxicomania e alcoolismo da EBP-RJ.
Meu trabalho é baseado na teoria psicanalítica. Vou esclarecer alguns pontos primeiramente:
Durante a minha fala ao me referir às pessoas que fazem uso de uma droga, não os chamarei de dependentes químicos e sim de drogadictos. Por que? A palavra adicto vem do latim addictu, palavra essa que era usada nos tempos da Roma Antiga para designar àquelas pessoas que se tornavam escravos para pagar uma dívida.
Como já foi dito pelo médico aqui presente as pessoas que são chamadas de dependentes químicas são aquelas que fazem a ingestão de uma substância prejudicial que produz danos doa mais variados: sociais, econômicos, morais e até mesmo orgânicos. Não podemos definir a questão das drogas como química simplesmente, valorizando apenas os efeitos produzidos, temos que pensar nas causas, no que leva o sujeito tal "objeto".
Quando um sujeito elege uma determinada droga, ele não faz isso aleatoriamente, há ali uma escolha, uma implicação naquilo que ele decide fazer da vida. Nos animais racionais temos esta possibilidade, de nos implicarmos naquilo que escolhemos, diferente dos animais irracionais. O sujeito é movido pelo desejo, que vem daquilo que nos falta, buscamos cada vez mais e mais porque o desejo nunca vai ser plenamente satisfeito, se fosse não teríamos mais razão para viver.
No caso da drogadicção podemos dizer que a questão da satisfação se dá de forma peculiar, ela esconde, disfarça a impossibilidade de se satisfazer por completo; onde se deixou faltar tudo ou não se deixou faltar nada, o que no final acaba dando no mesmo, pois trata-se de excesso. 
O que eu quero dizer com isso? Ás vezes a gente vê pessoas que tiveram tudo em casa, roupas boas, dinheiro, saúde e que acabam se tornando drogadictos e também pessoas para as quais faltou tudo, passaram até fome, onde houve neste caso carência em excesso e seguem pelo mesmo caminho. Por que? Provavelmente porque faltou o carinho, a conversa, o entendimento, a comunicação, enfim a linguagem.
Podemos escutar esta questão nitidamente quando o paciente fala da sua relação familiar. Na verdade são excessos que atrapalham a constituição psíquica do sujeito. Por isso em psicanálise não falamos em dependência química e sim dependência psíquica, pois na origem delas está o excesso. Eu diria que o verdadeiro tóxico é o excesso, um excesso não passível de ser dito, de ser falado.
O que nós psicanalistas buscamos são respostas no funcionamento psíquico, o lugar que a droga ocupa no inconsciente do sujeito.
Vocês devem estar pensando: mas se são drogas que alteram a química dos corpos e que produzem prazer, a questão só pode ser química... Realmente, podemos provar que a substância causa efeitos, ela está presente na corrente sanguínea do sujeito. Ela é real sim e é por isso que trabalhamos em parceria com os médicos, e em muitos momentos é necessária a internação para que haja a desintoxicação da química do produto, mas se ele não se desintoxicar de suas questões e repensar sua vida, ele vai voltar para as drogas e cada vez vai se afundar mais.
O psicanalista vai convidar o sujeito a repensar sua vida e se implicar naquela dependência.
A relação com as drogas começa antes, muito antes ainda que o sujeito se aproxime de qualquer uma delas. Talvez por isso algumas corrente falem em predisposição hereditária, fator genético. Não deixa de ser uma herança, mas não uma herança passada pelos genes e sim uma transmissão inconsciente, feita por atos, gestos.
Não interpretem isso como uma "culpabilização" dos pais, pois na maioria dos casos, os pais dão o melhor de si na educação de seus filhos, mas há coisas passadas de forma não perceptível a nos mesmos. E lembrando que culpa é algo consciente e aqui estamos falando de in-consciente.
O que precisamos marcar e deixar registrado é de que os atos que praticamos são de nossa inteira responsabilidade, não podemos deixar o sujeito se esconder por trás de uma dependência química, ele tem uma implicação nisso sim e é a partir dai que teremos que trabalhar muito. O poder está mais no sujeito do que na droga.
É o sujeito que sobe o morro para comprar pó, portanto, ele TEM QUE se responsabilizar por isso. Não é a droga que faz o sujeito e sim o sujeito que faz a droga. Vale ressaltar que quando falo em droga, não me refiro apenas às drogas químicas, falo também de drogas como a compulsão as compras, por exemplo, me refiro a qualquer objeto do qual o sujeito se utilize em excesso.
O que o sujeito busca nas drogas é um poderoso alívio para as suas angústias, seus sofrimentos. É uma solução para enfrentar as dificuldades da vida, aos obstáculos que a vida nos coloca. Ao mal-estar de viver em uma sociedade violenta, onde temos medo de sair na rua e sermos assaltados etc. Por isso o uso e abuso das drogas estão tão presentes nos tempos modernos.
Na clínica psicanalitica desejamos transformar os usuários de drogas em usuários da palavra.
Lembrem-se que não estou banalizando os efeitos das drogas no organismo apenas dizendo que é necessário que o sujeito se responsabilize por seus atos!
A droga pode aparecer em qualquer idade, mas na adolescência é mais comum pois trata-se de um período conturbado, com muitas mudanças: psíquicas, sociais, corporais. É um período delicado de muitos questionamentos. O grande lance é se o adolescente será apenas um experimentador ou se vai se tornar um drogadicto

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